Memória do que foi

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Os primeiros passos de Goiânia como “futura capital” do estado de Goiás foram dados ainda no século XIX, mas a capital virou definitivamente “Goiânia” em 2 de agosto de 1935, com o decreto estadual que deu o nome à capital. A história do prédio que habita a Casa Cor 2016 é tão antiga quanto a chegada da administração do estado para a nova cidade. É essa história que o arquiteto, designer e artista plástico Leo Romano quis contar com seu ambiente na mostra.

Desde seus primeiros anos de vida, os três mil metros quadrados que hoje hospedam a Casa Cor serviram à saúde.  Datado de 1930, a construção de número 777 abrigou o primeiro posto de saúde da capital, estrategicamente localizado ao lado da única unidade hospitalar da cidade, a Santa Casa de Misericórdia. Posteriormente o edifício se transformou na Central de Medicamentos de Alto Custo (CMAC) Juarez Barbosa.

O edifício, desocupado desde 2013, traz consigo uma estética de dor e abandono. A dor vem de sua antiga função: receber doentes na tentativa de curá-los; e foi ela, a dor, um dos principais elementos utilizados na construção do espaço. “Eu queria que as pessoas entrassem no ambiente e se interessassem pela história do lugar e para contar essa história, escolhi a linguagem poética”, contou Leo. Para superar a “dor”, o arquiteto se inspirou nos elementos de cura.
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O ambiente é como um ambulatório fantasiado com a beleza do design e da arquitetura e protegido pela poesia que cada um de seus elementos transmite ao visitante. Uma melodia triste, ao fundo, resgata o visitante para os anos que aquele edifício servia de anexo à Santa Casa de Misericórdia. “Eu quis resgatar as memórias que este prédio histórico carrega como algo que representasse, ao mesmo tempo, angústia e leveza”, explicou Leo Romano em entrevista ao Blog AZ.

Inspirado pela aparência das enfermarias pós-guerra, a “Santa Casa Leo” possui uma atmosfera que remete aos ambientes de uma casa, um escritório ou mesmo um hospital. O objetivo do arquiteto não foi criar um espaço com função definida, mas sim um conceito que ultrapassasse um cômodo ou um jeito de morar cotidiano e capaz de despertar sensações. “Você pode me perguntar se isso é um quarto ou uma sala e eu vou te responder que esse espaço é, na verdade, uma referência”, explicou.

O profissional aposta na ressignificação da memória e conserva características originais da construção, somando a elas uma interferência arquitetônica precisa entre volumetrias, revestimentos, iluminação, mobiliários e objetos. Para Leo Romano, nenhuma escolha é feita ao acaso na montagem de uma exposição como a Casa Cor, “todos os elementos que estão aqui servem para despertar um questionamento”.

Leo, que completa juntamente com a Casa Cor Goiás, 20 anos de mostra em 2016, acredita que a exposição serve para mostrar um conceito e não apenas criar um lugar bonito. Esta sua filosofia o levou também para a mostra da Casa Cor de SP (pelo segundo ano consecutivo). Este ano Leo aproveita a exposição – em Goiás e em São Paulo – para fazer o lançamento de sua nova linha de mobiliário Bailarina. Inspirado na dança de um grande balé clássico, os objetos foram construídos com pés que remetem ao formato das bailarinas de ponta. A linha dialoga com seu ultimo lançamento, da colação Chuva.
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Texto: Bárbara Alves
Fotos: Marcus Camargo

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