“O mundo está colocando novos desafios para a arquitetura. Estou ansioso para trabalhar com arquitetos de todo o mundo e imaginarmos juntos como vamos superar esses desafios”. Quando o arquiteto libanês Hashim Sarkis disse isso, ao ser nomeado curador da Bienal de Veneza 2020, ele não imaginava, assim como nenhum de nós, que o mundo seria atingido por uma pandemia.
Nascido em 1964, em Beirute, Sarkis é arquiteto e doutor em Filosofia e tem escritórios estabelecidos em Cambridge e em Beirute. Além disso, também foi professor por 20 anos na Escola de Graduação em Design da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Desde 2015, dirige a Escola de Arquitetura e Planejamento do MIT.
Entre seus principais trabalhos, estão a prefeitura de Byblos, no Líbano, e a Dana Street House, em Cambridge. O currículo de Sarkis fez com que ele fosse reconhecido pelo presidente da Bienal de Veneza, Paolo Baratta, como um “curador que está particularmente ciente dos temas e críticas que as várias realidades contrastantes da sociedade atual representam para nosso espaço de vida”.
Entrevista
O tema da Bienal, que foi adiada de agosto de 2020 para maio de 2021, é “Como Viveremos Juntos?”. Com essa questão, Sarkis tem a intenção de chamar os arquitetos a imaginarem espaços para a convivência pacífica e generosa, algo totalmente pertinente ao momento em que estamos vivendo.
Em uma entrevista ao site “Archdaily”, Sarkis falou um pouco sobre como suas percepções mudaram após a pandemia e qual é o futuro da Bienal de Veneza. Abaixo, separamos alguns dos trechos mais marcantes da conversa, confira:
“Estamos perguntando isso aos arquitetos (Como Viveremos Juntos?) porque, claramente, não estamos felizes com as respostas que estão vindo atualmente da política. Estamos perguntando aos arquitetos por que estes sabem como ninguém convocar diferentes participantes e especialistas no processo de construção”.
“Uma casa unifamiliar pode, em última análise, replicar os valores explícitos e opressões implícitas do modelo de família nuclear pós-Segunda Guerra Mundial, mas também vimos experimentos poderosos de arquitetas como Lina Bo Bardi e Elizabeth Diller que desafiaram, de dentro para fora, as hierarquias familiares e segregações de gênero da casa unifamiliar. A casa reimaginada será uma das cinco escalas da Bienal”.
“Nossa profissão tem a tarefa de projetar espaços melhores para uma vida melhor. Nosso desafio não é ser otimista ou não. Não temos escolha. Trata-se do sucesso na transposição dos habitantes para uma vida melhor através das “imagens de desejos” que produzimos com a arquitetura”.
“Os mesmos motivos que nos levaram a fazer essa pergunta (crise climática, deslocamentos massivos de população, polarização política e crescentes desigualdades raciais, sociais e econômicas) nos levaram a essa pandemia. A resposta da arquitetura a essas questões será central para a 17ª Bienal de Arquitetura de Veneza”.
“Não existe agência mais bem equipada para agir na incerteza do que a do artista (e se os artistas permitirem, também a do arquiteto!). Artistas, como nos lembra o poeta John Keats, são perfeitamente capazes de construir mundos inteiros sem evidências completas, sem a necessidade de explicar tudo sobre o mundo”.
“Criar alternativas para o mundo é uma maneira diferente de entender o mundo. ‘E se’ é tão válido quanto ‘como’ e ‘por que’. Um contrato espacial pode ajudar a inspirar um contrato social”.
“Estamos transferindo para a tecnologia a responsabilidade de encontrar soluções para os problemas que a tecnologia criou. Também estamos cada vez mais conscientes de que esses problemas e suas soluções não são apenas tecnológicos”.
“Esta exposição também revela uma conexão entre as Bienais que raramente vemos quando as visitamos uma de cada vez. A conexão entre as artes como uma arte, e entre as Bienais como uma Bienal, amplifica o papel das artes em tempos desafiadores, mesmo quando são cacofônicas – aliás, especialmente quando são cacofônicas”.
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Foto destaque: Dezeen