Foi com o conceito do “Projeto Seringueira” que as mentes criativas de Paulo Alves, Fernando Jaeger, Zanini de Zanine, André Cruz e dos irmãos Sergio Fahrer e Jack Fahrer pretendem explorar todo o potencial da madeira da seringueira cultivada, uma das árvores nativas mais importantes da história do nosso país. Com o projeto, os designers pretendem criar seis peças assinadas com a utilização da madeira que serão apresentadas para os lojistas entre os dias 12 e 15 de fevereiro na Marcenaria São Paulo.
Fomentadores do uso ecologicamente correto de materiais orgânicos, Sérgio e Jack Fahrer fazem parte de um grupo de designers que na década de 1990 trabalhou difundindo o selo do FSC (Forest Stewardship Council) no Brasil, que certifica toda cadeia de custódia de extração e comercialização da madeira. “O intuito deste projeto é promover o uso da seringueira, estimulando o reaproveitamento desta espécie de árvore e evitando o desmatamento e extinção de outras espécies ameaçadas”, revelam.
De origem amazônica, a árvore seringueira é usada para a produção de látex e borracha em ciclos de vida que podem durar até 35 anos. Quando seu ciclo chega ao fim, as seringueiras são cortadas para darem espaço a novas mudas. Ou seja, de um produto florestal estabelecido como não madeireiro, onde o objetivo principal é a extração do látex, nasce uma nova fonte de madeira que, além de linda, é ecologicamente sustentável.
Cada designer deu seu toque pessoal à madeira, Paulo Alves, à frente do projeto, explica que por se tratar de uma nova opção de madeira para mobiliário, decidiu trabalhar com o material bruto. “Gosto de explorar o material de várias maneiras para descobrir suas possibilidades”, relata. O resultado dessa exploração é uma namoradeira onde “é possível ver um pedaço da tora em seu estado bruto somente tirando a casca e aproveitando a própria superfície macia do tronco. Nas extremidades da peça é possível ver todos os anéis de crescimento da árvore, sendo que cada um corresponde ao ciclo de um ano que ela passou plantada”, explica Alves.
André Cruz, por outro lado, optou trabalhar com a mistura de materiais. “Usei o concreto, pois vi similaridade com o processo de extração do látex que é líquido ao ser extraído e depois se torna sólido através de diversos processos. Esse material também é inicialmente uma massa líquida, que pode se transformar no shape que quiser”, conta.
O mercado de mobiliário confeccionado com esta madeira já foi estabelecido, há mais de 20 anos, em países asiáticos como a Tailândia, Malásia, Indonésia e Vietnã, tradicionais produtores de borracha natural com imensas áreas dedicadas ao cultivo de seringueira. As árvores chegaram ao continente por meio de sementes recolhidas pelos Ingleses, na Amazônia, ainda no século XIX, e levadas para a Ásia em uma época em que o Brasil era o único produtor de borracha do mundo.
Esse deslocamento fez com que a cultura da seringueira perdesse espaço no Brasil. “Hoje ainda importamos a borracha natural porque temos uma produção muito abaixo do que consumimos. Uma ironia para um país que detinha a produção total do látex”, afirma Fernando Genova idealizador do projeto e presidente da Madeibor, madeireira especializada no plantio e extração da seringueira.