Jardins perdidos da capital

Bosque dos Pássaros e os jardins esquecidos do Setor Sul viram galerias de arte para os grafiteiros goianos

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A capital esconde algumas belezas e o Bosque dos Pássaros é uma delas. O que poucos sabem é que o Bosque dos Pássaros, a versão goiana e com mais natureza da famosa viela de grafites da Villa Madalena em São Paulo, é apenas um exemplo dos inúmeros jardins esquecidos do Setor Sul.

Segunda capital planejada do Brasil, Goiânia nasceu dos desenhos do urbanista Atílio Corrêa Lima (revisado por Armando de Godoy) com o objetivo de fomentar a marcha para o oeste iniciada pelo governo de Getúlio Vargas na década de 1930.

Como tudo que é planejado, a cidade nasceu com grande potencial. A ideia era inspirar o projeto da nova capital na proposta das cidades idealizadas pelo urbanista inglês Ebenezer Howard. Howard propunha o fim da divisão entre o urbano e rural e para isso as cidades foram pensada como pequenas vilas para até 35 mil habitantes cercadas de verde.

A cidade-jardim de Ebenezer Howard norteou a urbanização de várias vilas pelo mundo e de um peculiar setor da capital goiana: o setor-sul. O coração do Setor Sul foi criado para ser uma rede pública de jardins por onde as pessoas caminhariam a pé. As casas ficariam de frente para essa cidade verde com passagens apenas para pedestres e de costas para pequenas vielas feias e frias projetadas para que os carros pudessem passar e estacionar.

Por meio de uma lógica ilógica os jardins se tornaram o fundo das casas e as vielas, a entrada principal; ou seja, os moradores viraram o bairro do avesso e os jardins ficaram esquecidos. Os jardins foram projetados para as ruas, mas as ruas se esqueceram do jardim.Quem já andou pelo bairro, com certeza se perdeu em um número sem fim de vielas sem saída até encontrar um jardim abandonado que nunca imaginou existir na cidade. O problema é que esses jardins são numerosos.

O resultado positivo do abandono foi a reutilização desses espaços pela arte urbana. O Bosque dos Pássaros é o exemplo mais claro do aproveitamento artístico do espaço público. O jardim realmente não admite a entrada de carros, suas ruas estreitas ligam três entradas opostas todas projetadas para a passagem de pedestre. Os muros altos com pequenos portões que ligam as casas ao jardim esquecido – passagens que não devem ser abertas muitas vezes ao ano – são as telas em branco. Os artistas se apropriaram desses espaços e deixaram suas marcas. Hoje os jardins esquecidos merecem fazer parte do circuito cultural da cidade, pois viraram galerias a céu aberto.

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